Para Ildo Sauer, desastre da Chevron levanta questões sobre os contratos com petrolíferas estrangeiras no Brasil
O vazamento de petróleo causado pela empresa estadunidense Chevron teve início no dia 8 de novembro. A morosidade e nebulosidade das informações passadas levantaram questões referentes ao empenho da empresa em sanar o problema. Os equipamentos usados para “matar” o poço (termo usado para descrever o fechamento de um poço) estavam nos Estados Unidos e demoraram 13 dias para chegar ao local. Além disso, existem suspeitas de que a empresa tenha omitido e adulterado informações à Agência Nacional de Petróleo, ANP, para minimizar o caso.
Ao ser questionado sobre a possível tentativa ilegal de exploração de petróleo do pré-sal por parte da Chevron, o professor titular do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP) e ex-diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, afirma que é preciso que o Ministério Público investigue. "Eles usavam uma broca chamada pé de cachorro e é comum que se mude o direcionamento da broca horizontalmente para buscar mais petróleo. É difícil afirmar sobre as intenções da empresa sem uma investigação detalhada.”
Sanções
Sauer afirma que a empresa é responsável e deve receber as devidas sanções, mas observa que o atual sistema de leilões dos poços, a forma como são feitos os contratos, a falta de fiscalização e uma legislação com multas baixas - a Chevron até agora foi multada em 50 milhões de reais, valor irrisório levando-se em consideração seu faturamento que no ano passado foi de 200 bilhões de dólares - faz com que as empresas não façam a exploração com o devido cuidado.
Segundo ele, para que ocorra a exploração de um poço de petróleo é necessário que se faça um estudo detalhado e a empresa deveria se certificar de que não existem danos ambientais, ou que esses danos estejam dentro do mínimo aceitável. O que acontece é que esses estudos nunca são feitos, afirma o professor, já que são empresas privadas que analisam o projeto e fazem o seguro de um poço. Mas, continua Sauer, "após o desastre ocorrido no Golfo do México, se não estou enganado, as seguradoras não querem mais fazer esse tipo de seguro."
Impactos negativos
Fonte: Portal Terra (Alexandre Bazzan).
Todo desastre ambiental gera impactos negativos os quais são difíceis de serem superados. Mas o professor Ildo Sauer diz que nesse caso é possível ver um lado positivo: o questionamento sobre o atual sistema de exploração de petróleo brasileiro que "foi instaurado no governo FHC e que não teve mudanças significativas durante o governo Lula, nem tampouco no atual mandato de Dilma".
Segundo Sauer a Petrobras é atualmente a empresa mais qualificada no mundo para a exploração de jazidas 'offshore' (perfurações feitas no fundo do mar), e a empresa como única exploradora de petróleo do país traria um grande benefício para o povo brasileiro. "Os 10% de royalties pagos ao governo deveriam ser mais bem explorados. Essa é uma forma de recompensar o uso de um recurso fóssil e precisamos pensar nas gerações futuras, porque em 50 ou 60 anos as reservas de petróleo vão acabar. É preciso criar uma alternativa e ter um desenvolvimento social com esse dinheiro."
A Chevron foi impedida de operar por tempo indeterminado no Brasil pela ANP semana passada - a empresa tenta negociar a punição para retomar a exploração. Mas os questionamentos ainda estão presentes, resta saber se o comprometimento do governo brasileiro é com o futuro do país ou com petrolíferas multinacionais.
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