segunda-feira, 2 de março de 2009

A INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA

Caros Leitores,

Recebi este email e como não sabia do fato, achei muito interessante a sábia resposta do Ministro Cristovam Buarque, e acredito que assim todo o brasileiro, seja qual for, seja povo ou político, deverá responder ao Mundo tão especulativo, capitalista, socialista, comunista ou sei lá o que, da forma que foi respondida com muita propriedade por Cristovam Buarque.

É muito fácil para alguns que estão por cima ditar as suas regras e estabelecer as suas vontades e principalmente as dos outros. Paises como o Brasil, outros da América Latina, Países Africanos e Asiáticos que sofrem com a má (péssima) distribuição de renda, falta de apoio dos governos, escravidão, discriminção, fome, miséria, controle ambiental e proteção aos animais e meio ambiente, vem sofrendo por determinações impostas pelos países chamados de "1o mundo". Os Países do chamado "1o mundo" - que ao meu ver, hoje ser chamado de 1o mundo seriam aqueles países que adotam políticas contrárias a todas as práticas espúrias e discriminativas sobre esse bloco de Países do chamado "3o mundo" - e o Brasil vem lutando arduamente "contra" esses manipuladores de idéias, normas e regras que são impostas obrigatoriamente sem a consulta dos países de menor poder ou valor comercial. O Brasil aos poucos vem demonstrado que tem representantes que sabem responder a altura, assim como vem revelando grandes nomes na ciência, na política, nos esportes e nas artes. O Brasil amadureceu e sabe que pode ter voz no mundo e caminhar pelas próprias "pernas", além do mais, o Brasil com a Amazônia, esta se tornando alvo de especulações de proteção ambiental mundial, como assim tornou-se o Oriente Médio com o famigerado petróleo. Está na hora dos brasileiros unirem-se pela proteção mundial do meio ambiente.

Intercionalizar é isso, tornar comum e internacional a todos os seres humanos, a todos os povos que vivem na face da terra e a resposta do Ministro Cristovam Buarque foi e é perfeita.

Obs. O fato em si ocorreu em Setembro de 2000 em Nova York, durante o State of The World Forum.

Leiam abaixo o texto do debate ocorrido no ano 2000 nos E.U.A.:

A Internacionalização do Mundo

Cristovam Buarque

Durante debate em uma Universidade, nos Estados Unidos, fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para uma resposta minha.

De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso.

Respondi que, como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade.

Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da Humanidade.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.

Durante o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas reuniam o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza especifica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.

Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o pais onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.

(*) Cristovam Buarque, 58, doutor em economia e professor do Departamento de Economia da UnB (Universidade de Brasília), foi governador do Distrito Federal pelo PT (1995-98). Autor, entre outras obras, de "A Segunda Abolição" (editora Paz e Terra).

Nota:

Recebemos um email questionando sobre a autenticidade do texto, pois alguns "web sites" diziam não ser Cristovam Buarque o seu autor. Entramos em contato com Cristovam que confirmou, em 10/05/2002, ser o texto de sua autoria:

"Prezado Paulo

O artigo é meu e foi publicado no Globo e no Correio Brasiliense, no final de 2000. O fato em si ocorreu em Setembro de 2000 em Nova York, durante o State of The World Forum.

Grande abraço

Cristovam"

e mais, em 28 de maio de 2002:

Prezados (as) amigos (as),


Vem sendo distribuido pela internet por diversas pessoas, o que me surpreende agradavelmente, o artigo "A Internacionalização do Mundo". O fato que deu origem a este artigo ocorreu em Nova York, nas salas de convenções do Hotel Hilton, durante o encontro do State of the World Forum, em Setembro de 2000. Publiquei o artigo no Globo e no Correio Braziliense, logo depois. Mas de vez em quando surgem mudanças e informações adicionais nem sempre verdadeiras. É falso que o artigo foi publicado no New York Time e outros jornais estrangeiros. Se tivesse sido eu tomaria certamente conhecimento através de algum amigo.

No mais, fico contente que vocês tenham lido. E para aqueles que ainda não leram aproveito a oportunidade para mandar.

Grande abraço
Cristovam

Esta matéria foi publicada no "The New York Times", no "Washington Post Today" e nos maiores jornais da Europa e Japão, no mês de agosto de 2001. No Brasil não foi publicada.

Fonte:www.cristovam.org.br

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